Todo ano, pelo menos 27,7 milhões de toneladas de resíduos recicláveis são produzidos no Brasil. Mas só 4% desse total, em média, é reciclado no país, de acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O restante acaba em aterros ou lixões, poluindo o meio ambiente, aumentando a emissão de gases de efeito estufa e infiltrando substâncias tóxicas, como microplásticos, nos lençóis freáticos. Uma única garrafa PET, por exemplo, demora mais de 450 anos para se decompor, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Imagine, então, o efeito de toneladas de materiais como este despejadas todo ano, há décadas.
A reciclagem, por sua vez, economiza recursos da natureza, como água e petróleo, e reduz a emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global. Para Hugo Coutinho e Mariana Almeida, da Recicleiros, além de dificuldades de infraestrutura e falta de indústrias especializadas em reciclagem, a cultura do brasileiro precisa mudar. “Mesmo onde há infraestrutura e políticas públicas para a reciclagem, a gente tem uma adesão que fica a desejar”, dizem. “A conscientização ainda é um grande gargalo”.
Mas você pode fazer a sua parte agora, adotando alguns hábitos simples e compreendendo melhor o que pode – e o que não pode – ser reciclado.
10 dicas para reciclar o lixo
1. Qual é a diferença entre lixo orgânico e reciclável?
Nem todos os resíduos são iguais e precisamos entender suas diferenças para descartar corretamente. Existem quatro tipos de resíduos:
Orgânicos: são os restos de alimentos e bebidas. Mesmo sendo biodegradáveis, o excesso contribui para a formação de metano e chorume, subprodutos tóxicos e poluentes. Por isso, para descartar de forma consciente, procure não comprar mais alimentos do que o necessário, preparar porções menores e congelar as sobras. Outra solução para os resíduos orgânicos é a compostagem, uma espécie de reciclagem natural, transforma esses resíduos em adubo.
Rejeitos: resíduos que, uma vez usados, não podem ser reciclados nem reaproveitados, como fraldas descartáveis e papel higiênico.
Especiais: resíduos que podem ser tóxicos ou perigosos, como remédios, eletrônicos e baterias.
Recicláveis: materiais que podem ser transformados em novos produtos. Além dos mais conhecidos, como garrafas PET e alumínio, outros itens recicláveis nessa categoria são caixas de papel, fios de cobre, panelas sem cabo, marmitex, revistas, sacos plásticos, entre outros.
Quando estiver na dúvida sobre o que é reciclável, o melhor é consultar as cooperativas locais e visitar sites oficiais da sua cidade ou estado. Já os símbolos nas embalagens indicando o tipo de resíduo podem não ser o melhor critério. “Algumas empresas se aproveitam de brechas na legislação e dizem que uma embalagem é reciclável apenas por ser composta, em parte, de um material reciclável”, dizem Hugo e Mariana, do Recicleiros. “Mas, na prática, não são reciclados”.
2. Precisa lavar as embalagens antes de reciclar?
Sim. Até ser reciclado, o resíduo passa por várias etapas que envolvem pessoas – do coletor do seu prédio até o cooperado responsável pela separação final. E lavar ajuda e tornar o trabalho desses profissionais melhor. Além disso, dependendo do tempo entre o descarte e a reciclagem, os restos de alimentos podem danificar o material impossibilitando a reciclagem.
Para os catadores, vender um material sujo diminui o valor de venda e, nas cooperativas, a necessidade de limpeza torna o processo mais custoso e menos eficiente.
Então, a dica é sempre lavar e secar embalagens de bebidas e alimentos úmidos. Pacotes de alimentos secos, como arroz e macarrão, não precisam ser lavados.
3. Como reciclar em casa?
O primeiro passo é separar os resíduos entre reciclável e não-reciclável, pois a triagem final costuma ser feita nas próprias cooperativas. Se o seu prédio tem lixeiras para separar por materiais, faça essa triagem na hora do descarte.
Para saber o tipo de coleta e os dias da coleta seletiva na sua rua, verifique junto à sua prefeitura. Em São Paulo, por exemplo, mais de 75% das vias já contam com coleta seletiva, segundo o Recicla Sampa.
Resíduos especiais como medicamentos, óleo de cozinha e eletrônicos devem ter um destino diferente (confira o tópico 8). Quebrou um vidro? Tome muito cuidado para descartar: coloque em um recipiente que não machuque as pessoas que cuidam do descarte.
4. O que jogar em cada lixeira de reciclagem?
Em muitos locais, há lixeiras coloridas de reciclagem – cada uma com um tipo diferente de material. Confira a seguir.
Azul: papel e papelão. Exemplos de itens: cadernos, livros, revistas e papéis em geral
Vermelho: plástico e isopor. Exemplos de itens: sacolas de plástico limpas, garrafas PET, embalagens de produtos de limpeza
Verde: vidro. Exemplos de itens: potes e garrafas de vidro
Amarelo: metal. Exemplos de itens: latinhas de refrigerante, tampinhas de garrafa, clipes
Marrom: orgânicos. Exemplo de itens: restos de alimentos
Cinza: não-recicláveis ou misturados. Exemplos de itens: papel higiênico e guardanapos usados, embalagens muito sujas e contaminadas
5. Como reciclar fora de casa?
Quando estiver na rua, o ideal é guardar os itens recicláveis até poder descartá-los em um local apropriado, pois lixeiras públicas comuns raramente passam por triagem. Em shoppings e empresas, utilize as lixeiras de recicláveis, pois esses locais são obrigados a coletar os resíduos adequadamente. E, caso precise realmente descartar o lixo comum, busque embalagens biodegradáveis - como as de papel.
6. O que fazer se na sua cidade não há coleta seletiva?
Procure pontos de entrega voluntária, como ecopontos em shoppings e supermercados, ou entre em contato com cooperativas de reciclagem, que podem buscar os materiais ou permitir a entrega em datas específicas. “Outra possibilidade é conversar com um coletor autônomo, que pode passar na sua casa para pegar os recicláveis que interessam a ele”, diz o Recicla Sampa.
7. Produtos que parecem recicláveis, mas não são
A reciclagem depende de fatores que vão além do material em si. Um deles é o conceito de “reciclabilidade”, que define se um material vale a pena ser reciclado. Segundo o Recicla Sampa, o isopor é um exemplo. O material é reciclável, mas não tem reciclabilidade porque o processo é muito caro.
Outros aspetos que influenciam a reciclagem são tamanho do material (os muito pequenos são difíceis de reciclar) e contaminação de outros materiais, o que demanda uma separação química complexa. E, algumas vezes, o processo de reciclagem pode acabar impactando mais o meio-ambiente do que a produção de matéria-prima nova.
Confira alguns materiais que não são recicláveis:
- Sachês de molhos como ketchup e mostarda
- Embalagens de salgadinhos e bolachas
- Cabos de panela
- Papéis metalizados ou plastificados
- Espuma
- Esponjas de aço
- Fotografias
- Etiquetas adesivas
- Cerâmicas
- Espelho
8. Como descartar eletrônicos e outros resíduos especiais?
Computadores, celulares, geladeiras e torradeiras, entre outros, não podem ser descartados no lixo doméstico. Para fazer o descarte corretamente, busque pontos de coleta específicos para esses materiais ou empresas e ONGs que têm programas de coleta – algumas até buscam gratuitamente na sua casa.
Outros resíduos que precisam ir para pontos de coleta são: madeira, remédios, baterias e óleo de cozinha. É comum que supermercados tenham locais para coletar óleo de cozinha usado e farmácias costumam ter lixos especiais para baterias e remédios.
9. Como reaproveitar materiais?
Antes de descartar um material, pesquise se não há outros usos que você poderia fazer. Em muitos casos, dá para reinventar. Confira algumas sugestões.
- Potes de sorvete: usar para armazenar alimentos no freezer
- Garrafas e potes de vidro: é possível guardar alimentos e bebidas, usar como vasos para plantas ou base de abajur
- Escova de dentes: podem servir para limpeza doméstica em geral
- Saquinhos de sílica: podem ser colocamos para desumidificar espaços pequenos da sua casa, como gavetas
- Caixotes de feira: é possível usá-los para construir pequenos móveis, como estantes e mesinhas de apoio
10. Ao reciclar, você ajuda o planeta e as pessoas
O impacto da reciclagem é positivo não apenas para a preservação do meio ambiente, mas também para a vida de quem trabalha com isso. No Brasil, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) estima-se que cerca de 800 mil pessoas ganhem seu sustento por meio da coleta de recicláveis - e mudem sua condição social.
Tanto que, cooperativas de reciclagem, são um grande ponto de apoio para pessoas em situação de vulnerabilidade, que têm dificuldade de entrar no mercado formal. “As cooperativas são ferramentas de inclusão social incríveis”, diz o Recicla Sampa. “São pessoas em situação de vulnerabilidade, seja social ou psicossocial, que a cooperativa traz para dentro, cria uma rede de solidariedade, dá dignidade”, diz o Recicla Sampa.
A Suzano apoia esse ecossistema com um programa de reciclagem inclusiva, parte de suas iniciativas de Desenvolvimento Social (saiba mais aqui). Por meio de parcerias em várias regiões do Brasil, a empresa investe na capacitação de catadores e catadoras que fazem parte de cooperativas ou que atuam autonomamente. Com isso, há o auxílio no fortalecimento de cooperativas, no incentivo a mais demanda por materiais e na articulação com poder público para contribuir com a geração de renda e com o desenvolvimento da Economia Circular. O projeto Recicle Aracruz é um exemplo. A iniciativa impulsionou uma cooperativa que faz coletas na fábrica da Suzano em Aracruz, no Espírito Santo, a ter um aumento de 91% em sua renda em dois anos.