Correr na grama molhada, sujar a roupa de terra, seguir um passarinho, imaginar com o que se parecem as nuvens do céu. Atividades tão simples – levando as crianças na natureza, ao ar livre - estão sendo cada vez mais negligenciadas pelas famílias.

Uma pesquisa da consultoria OnePool, realizada em 2022, traz uma boa dimensão do tema: as crianças britânicas da atual geração brincam ao ar livre 62% menos dos que seus avós da geração Baby Boomer, nascidos entre 1956 e 1964.

As explicações para essa mudança no estilo das brincadeiras passam pela alta urbanização das cidades, pelo medo da violência fora de casa e pela ascensão da tecnologia, que deixa as crianças presas às telas.

Mas desconsiderar as atividades fora de casa e deixar os smartphones ou tablets no comando podem fazer com que as crianças sofram com ansiedade, dificuldade de atenção e hiperatividade - especialmente aquelas que têm pais que abusam da conexão, como revelou uma pesquisa da Universidade de Calgary, no Canadá, publicada em 2024, feita com crianças de 9 a 11 anos.

Por isso, é hora de colocar os tênis e sair de casa com os pequenos, levando as crianças na natureza. E não é preciso tanto tempo assim: 1 hora por dia ao ar livre é o ideal para o bem-estar infantil, segundo a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Instituto Alana, que assinam juntos o documento Os Benefícios da Natureza no Desenvolvimento das Crianças e dos Adolescentes, com última atualização em 2024.

Entenda a importância do contato com a natureza para o desenvolvimento infantil

Atividades ao ar livre com crianças brincando na natureza ajudam no desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo. Afinal, a natureza proporciona uma diversidade de texturas, cheiros, cores e sons que estimulam os sentidos das crianças.

“O nosso desenvolvimento está muito relacionado às experiências que a gente vive, e as experiências sensoriais também fazem parte disso”, diz Larissa Fonseca, psicopedagoga, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e adolescente e autora do livro Dúvidas de Mãe (Editora Pá de Palavra/Parábola).

Valéria Blos, diretora geral do Instituto Ecofuturo, organização não governamental mantida pela Suzano e dedicada à educação e à conservação ambiental, completa a explicação: “Escutar os sons ou colocar os pés na água de um rio amplia a sensibilidade das crianças. Isso abre um espaço para a criatividade, para a expressão individual e para o autoconhecimento”.

Outra vantagem de proporcionar brincadeiras com as crianças na natureza é delas explorarem os próprios movimentos. Ao correr, saltar e andar em diferentes relevos, elas desenvolvem a coordenação motora e se sentem mais seguras. “À medida em que vão superando desafios físicos, ganham confiança nas habilidades”, diz Larissa. “Quando ficam muito tempo em um ambiente fechado, elas se tornam inseguras porque não têm a oportunidade de experimentar movimentos.”

Quando há outras crianças no local, o contato em um ambiente novo também ajuda a promover o trabalho em equipe e a fortalecer competências sociais, como a fala, capacidade de argumentação e respeito às diferenças. Além disso, o tempo compartilhado com a família - como pai, mãe, irmãos, tios e primos – fortalece os vínculos afetivos.

Além das brincadeiras em contato com o meio ambiente, os familiares podem incentivar a sustentabilidade nas crianças com o uso de brinquedos recicláveis.

Os benefícios da natureza para a saúde infantil

Levar as crianças na natureza e proporcionar esse contato com o meio-ambiente possibilita diversos benefícios físicos e mentais:

Saúde física

O contato das crianças com a natureza é um importante aliado para a manutenção da saúde infantil. “A exposição a diferentes elementos, como folhas, terra e flores, por exemplo, ajuda a fortalecer o sistema imunológico e a evitar reações alérgicas no futuro”, explica Larissa.

O contato com o sol – sempre com o uso de proteção – também é importante para o desenvolvimento da parte óssea, uma vez que é assim que o corpo sintetiza a vitamina D, elemento importante para a absorção de cálcio e fósforo.

Estar em um ambiente externo combate o sedentarismo, favorecendo o fortalecimento cardiorrespiratório e o desenvolvimento da musculatura.

Saúde mental

E o simples fato de ver árvores, plantas e animais traz uma sensação de bem-estar, que ajuda a reduzir o estresse do dia a dia – que, sim, até as crianças podem sentir. “As sensações que a natureza provoca diminuem o nível de cortisol, o hormônio de estresse, e ajudam a diminuir a ansiedade”, diz Larissa.

A nossa capacidade de concentração também sai ganhando. Por não ser um ambiente tão sobrecarregado de informações como são a tela de um celular ou um shopping, o mundo natural nos ajuda a entrar em um estado mais relaxado e focado. “A conexão com a natureza pode auxiliar, inclusive, aquelas crianças que têm dificuldades para dormir”, diz Valéria.

Praticar atividades mais livres, sem regras pré-determinadas, também é importante para a saúde mental.  “As crianças não estão mais acostumadas com o tédio. Mas o não fazer nada é uma janela para a imaginação e criatividade, especialmente na natureza”, diz Valéria.

O meio ambiente como espaço de aprendizado

“Para professores, levar as crianças para a natureza pode ser uma forma de estimular novas conexões com o que a turma está estudando”, diz Larissa. “É fazer do ambiente externo um espaço de aprendizagem”.

Isso porque a natureza é um poderoso agente educativo. No Parque das Neblinas, reserva ambiental da Suzano, gerida pelo Instituto Ecofuturo, com 7 mil hectares de Mata Atlântica, há iniciativas para conectar estudantes e professores a questões socioambientais – o que estimula reflexões que vão muito além do aprendizado sobre plantas e animais.

“A gente aprende não só sobre a natureza, mas sobre nós mesmos e sobre o outro”, diz Valéria. Além disso, o contato com a natureza ajuda até em temas que não têm diretamente a ver com a biodiversidade. “Já vimos professores de matemática, por exemplo, usando as vivências e os instrumentos do meio ambiente para ensinar a matéria”, diz.

Afinal, os elementos disponíveis nos espaços naturais, de uma pedrinha até uma grande árvore, ajudam muito a criar. Isso auxilia não só a desenvolver autonomia e autoconfiança, mas também a resolução de problemas e a formação de novas conexões neurais.

Além, é claro, de ser uma forma poderosa de incentivar a conscientização da importância da proteção da biodiversidade. “A gente só cuida daquilo que a gente conhece e ama, e a criança desperta esse sentimento de carinho por meio da liberdade no contato com a natureza”, explica Valéria.

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Exemplos de atividades ao ar livre para integrar as crianças na natureza

Levar crianças ao ar livre com mais frequência pode ser um desafio. “Muitos pais que atendo dizem que os filhos não querem ir para fora, preferem ficar em casa”, diz Larissa. “Mas isso é porque as crianças ainda não conviveram o suficiente com os prazeres de estar ao ar livre”.

Segundo ela, uma vez que os pequenos começam a descobrir esse universo, acabam aprendendo a gostar. “Quando os pais promovem essa possibilidade, a brincadeira torna-se um aliado incrível para as crianças deixarem as telas”.

Veja a seguir algumas dicas para promover esse comportamento:

Separe um tempo na agenda

Com a correria do dia a dia, muitas vezes acabamos deixando de lado momentos de pausa e de brincadeira com as crianças. Por isso, a dica é programar esses momentos assim como fazemos com outros compromissos, como a escola ou uma consulta médica.

Mas não precisa envolver sempre grandes deslocamentos: um jardim próximo à sua casa, uma pracinha ou explorar as árvores e flores em uma rua podem ser a oportunidade de passar um tempo fora de casa.

Estimule os sentidos

Para encorajar uma criança a se conectar com a natureza, vale ajudá-la a despertar os próprios sentidos. “Peça para ela fechar os olhos e sentir a textura de plantas, da grama ou prestar atenção nos sons”, diz Valéria. “Ou então pergunte quantas cores de borboleta ela viu, quais as flores ela encontrou.”

Observar árvores frutíferas – e até experimentar ou brincar com uma fruta – é outra forma de despertar a conexão. As possibilidades são muitas e esse pode ser um processo de descoberta conjunta dos pais e filhos.

Incentive a imaginação

Por mais que seja importante dar liberdade para as crianças descobrirem brincadeiras e jogos, é possível dar um empurrãozinho. “Dar ideias de brincar de caça ao tesouro ao ar livre ou de jogo da amarelinha permite que a criança possa fazer isso de forma independente depois”, explica Larissa.

Diversifique as atividades

Passeios de bicicleta, esportes como vôlei e futebol, trilhas, natação, piqueniques ou mesmo passar o dia lendo e descansando em um gramado – esses são só alguns exemplos do que é possível fazer ao ar livre.

Variar as atividades é importante não só para as crianças, mas para os próprios cuidadores se sentirem mais engajados e motivados a passar o tempo ao ar livre.

Conclusão: ficar perto da natureza faz bem

A conexão com a natureza é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento infantil, além de ser importante para o fortalecimento da saúde física e mental dos pequenos – e dos laços entre as famílias.

Que tal começar a colocar esse compromisso com os espaços verdes na sua agenda e na da meninada? Se quiser unir aprendizado e diversão, um passeio pelo Parque das Neblinas, que tem atividades como trilhas, cicloturismo e canoagem, é uma ótima pedida. Confira a programação na agenda do Parque.

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